segunda-feira, 21 de maio de 2012

SAMBA X PAGODE: QUAL A DIFERNÇA?


Esta é uma duvida que as pessoas tem com muita frequência. Eu mesmo demorei um bom tempo para ter um conceito definido sobre o assunto. Envolve uma disputa de egos, não tenham dúvidas disso, chamar um sambista de pagodeiro soa como ofensa. Então se chegar a um lugar que senhores de cabelos grisalhos estiverem tocando jamais utilize o termo “pagode”. Mas vamos tentar de forma simples explicar a diferença.

Muita gente considera “samba” apenas as escolas de samba que desfilam no carnaval quando na verdade não é bem isso. Samba enredo é aquele estilo que envolve grandes alegorias, desfiles em grande escala e todo o glamour que se tem no evento. O velho e bom samba de roda, aí sim reduto de sambistas, vem da reunião dos amigos que tocam os tradicionais instrumentos (cavaco, banjo, repique de mão, tantã, surdo, chocalho...) e versam de improviso, como as rodas do famoso Cacique de Ramos no Rio de Janeiro, diga-se de passagem, o reduto, o berço do samba no Brasil. Sim, daí vem o termo samba-de-roda tradicional.

O termo pagode vem de uma derivação de estilos. Não que o samba não tenha seu lado mais romântico e melancólico, mas isso é feito com a mais pura sensatez, bem diferente do pagode comercial, onde os grupos são produzidos e criados da noite para o dia. A década de 90 foi invadida por grupos de pagode, e foram muitos. Quem não se lembra dos grupos Negritude, Katinguelê, Grupo Raça, Raça Negra, Sensação, Malícia e tantos outros que nasceram, cresceram ,tocaram e muitos desses, já não existem mais. Talvez este seja uma das referencias pra você, que lê este texto, identificar o que é um grupo sólido, o seu tempo de existência.

Nessa época apareceu muita coisa ruim, grupos criados apenas para servirem de vitrine para as gravadoras e não agregaram nada para a cultura nacional. Um exemplo parecido é a quantidade de dupla sertaneja intitulada “universitários” que é uma mistura de nada com pouca coisa. Bem diferente do sertanejo tradicional, raiz, que carrega a tradição da boa música caipira. Parece um pop com sotaque do interior...

Mas voltando ao nosso samba, a nata está mesmo nos tradicionais cantores: Beth Carvalho, Almir Guineto, Nelson Cavaquinho, Monarco, Fundo de Quintal, Ivone Lara, Lecy Brandão, Jovelina, Zeca Pagodinho, Arlindo e Sombrinha, Martinho e tantos outros mestres que enfrentaram uma verdadeira batalha até o samba descer o morro e chegar ao asfalto, como eles mesmos dizem. O samba fala do dia a dia, das alegrias e tristezas do malandro, dos desamores, da política, mas de forma pura e humilde, se “larará”, “ohohohohoh” e essas coisas que envergonham os mais antigos e criadores do estilo.

O pagode hoje é totalmente comercial, salvo alguns poucos grupos, hoje montam estruturas enormes com luzes, telões, colocam um monte de rostinhos bonitos e lançam ao povão. Infelizmente as rádios massificam e acaba acontecendo o que vemos atualmente, um bando de grupos estilo “Thiaguinho” (jura que mudou o samba?!?!?!) que só tem imagem e nada de sonoridade. Fica fácil, pois, contrata-se uma boa banda e a coisa flui, diferente de um Fundo de Quintal que chega lá e faz a coisa acontecer. Mas é isso, o dinheiro manda.

Espero que tenha conseguido esclarecer um pouco sobre o assunto, não quero polemizar, apenas mostrar que, mesmo que se criem novas vertentes, o tradicional deve ser respeitado e valorizado, é como um funcionário antigo que tem muito a ensinar aos novatos. Humildade meus queridos, quem tá chegando precisa de humildade, chegar no sapatinho e respeitar os mais velhos e criadores. Como diz o mestre Jorge Aragão: “respeite quem pode chegar aonde a gente chegou”... Salve o samba, Salve São Jorge!!

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