Esta
é uma duvida que as pessoas tem com muita frequência. Eu mesmo demorei um bom
tempo para ter um conceito definido sobre o assunto. Envolve uma disputa de
egos, não tenham dúvidas disso, chamar um sambista de pagodeiro soa como
ofensa. Então se chegar a um lugar que senhores de cabelos grisalhos estiverem
tocando jamais utilize o termo “pagode”. Mas vamos tentar de forma simples
explicar a diferença.
Muita
gente considera “samba” apenas as escolas de samba que desfilam no carnaval
quando na verdade não é bem isso. Samba enredo é aquele estilo que envolve
grandes alegorias, desfiles em grande escala e todo o glamour que se tem no
evento. O velho e bom samba de roda, aí sim reduto de sambistas, vem da reunião
dos amigos que tocam os tradicionais instrumentos (cavaco, banjo, repique de
mão, tantã, surdo, chocalho...) e versam de improviso, como as rodas do famoso
Cacique de Ramos no Rio de Janeiro, diga-se de passagem, o reduto, o berço do
samba no Brasil. Sim, daí vem o termo samba-de-roda tradicional.
O
termo pagode vem de uma derivação de estilos. Não que o samba não tenha seu
lado mais romântico e melancólico, mas isso é feito com a mais pura sensatez,
bem diferente do pagode comercial, onde os grupos são produzidos e criados da
noite para o dia. A década de 90 foi invadida por grupos de pagode, e foram
muitos. Quem não se lembra dos grupos Negritude, Katinguelê, Grupo Raça, Raça
Negra, Sensação, Malícia e tantos outros que nasceram, cresceram ,tocaram e
muitos desses, já não existem mais. Talvez este seja uma das referencias pra
você, que lê este texto, identificar o que é um grupo sólido, o seu tempo de
existência.
Nessa
época apareceu muita coisa ruim, grupos criados apenas para servirem de vitrine
para as gravadoras e não agregaram nada para a cultura nacional. Um exemplo
parecido é a quantidade de dupla sertaneja intitulada “universitários” que é
uma mistura de nada com pouca coisa. Bem diferente do sertanejo tradicional,
raiz, que carrega a tradição da boa música caipira. Parece um pop com sotaque
do interior...
Mas
voltando ao nosso samba, a nata está mesmo nos tradicionais cantores: Beth
Carvalho, Almir Guineto, Nelson Cavaquinho, Monarco, Fundo de Quintal, Ivone
Lara, Lecy Brandão, Jovelina, Zeca Pagodinho, Arlindo e Sombrinha, Martinho e
tantos outros mestres que enfrentaram uma verdadeira batalha até o samba descer
o morro e chegar ao asfalto, como eles mesmos dizem. O samba fala do dia a dia,
das alegrias e tristezas do malandro, dos desamores, da política, mas de forma
pura e humilde, se “larará”, “ohohohohoh” e essas coisas que envergonham os
mais antigos e criadores do estilo.
O
pagode hoje é totalmente comercial, salvo alguns poucos grupos, hoje montam
estruturas enormes com luzes, telões, colocam um monte de rostinhos bonitos e
lançam ao povão. Infelizmente as rádios massificam e acaba acontecendo o que
vemos atualmente, um bando de grupos estilo “Thiaguinho” (jura que mudou o samba?!?!?!) que só tem imagem e nada de
sonoridade. Fica fácil, pois, contrata-se uma boa banda e a coisa flui,
diferente de um Fundo de Quintal que chega lá e faz a coisa acontecer. Mas é
isso, o dinheiro manda.
Espero
que tenha conseguido esclarecer um pouco sobre o assunto, não quero polemizar,
apenas mostrar que, mesmo que se criem novas vertentes, o tradicional deve ser
respeitado e valorizado, é como um funcionário antigo que tem muito a ensinar
aos novatos. Humildade meus queridos, quem tá chegando precisa de humildade,
chegar no sapatinho e respeitar os mais velhos e criadores. Como diz o mestre
Jorge Aragão: “respeite quem pode chegar
aonde a gente chegou”... Salve o samba, Salve São Jorge!!
Gostei muito do texto, concordo =D
ResponderExcluirBelezaaaaa
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